sexta-feira, 11 de julho de 2008

O encenador apresenta-se....

Depois da estreia – Cena I

Caído o pano e apagadas as luzes, distendeu os músculos e ergueu-se da poltrona, onde gradualmente deixara as emoções da estreia, enquanto os ecos, aplausos e “encores” se esfumavam, em ondas cada vez mais distantes, nas suas células nervosas.

Valera a pena. Não seriam necessárias as críticas nos jornais do dia seguinte para ter a certeza que o espectáculo fora um sucesso. Sabia, porém, que nas emoções do momento, naquela cartografia de sentimentos díspares, na osmose de sensibilidades em que durante meses se envolvera, secundária fora sua pessoa e pouco contara o seu tão proclamado talento: o apuramento de uma deixa, aqui ou ali, um acerto de luzes, um pormenor de guarda roupa, uma leve correcção de marcação ou no registo de vozes, por vezes indispensáveis.

Porém, o teatro eram ELAS, essas duas mulheres sublimes, que por amor a elas, entrara naquele projecto, onde discretamente soubera imprimir a sua marca estética...

A Actriz, vibrátil e intensa, transfigura-se no palco; e no nervo e no sangue de seu corpo, frágil e sensível, todas as culpas se redimem e todas as glórias, prazeres ou depravações mundanas, alcançam a beleza sublime do “Cântico dos Cânticos”...

A Autora colocara, no coração da escrita, a alegria fecunda da sua criatividade participativa, exposta e vulnerável, tantas vezes graciosa, onde flutuaram, num jogo infinito de espelhos, heróis e vilões, sentimento calmos e funestas paixões...

Como não amar aquelas duas Mulheres?! Por amor a elas, comete pequenas/grandes traições, como aquela de na encenação da peça alterar o “final feliz” e deixar a heroína banhada em lágrimas, coberto o corpo nu com um lençol, como se tálamo nupcial fora, ao arrepio do que o público (e autora) esperariam. Mas a verdade é que não admitiria outro final, pois não suportaria vê-la assim exposta nos braços de outro homem...

Ama as duas, com paixão e ternura. Receia um dia deixar fluir a sua loucura mansa e, com o pano caído sobre o palco, com elas ensaiar a peça única das suas vidas. Sem outro guião que não seja a expressão livre do Desejo e sem outros aplausos que não sejam a cumplicidade à solta.(...)

(continua)

10 comentários:

Tinta Azul disse...

O começo promete.
Aguarda-se a continuação.
:)

Deusa Odoyá disse...

Oi meu amigo.
Passei para conhecer seu blog.
Muito bem elaborado.
Continue a peça, pois voltarei para ver o final.
.

Beijos da amiga.

Regina Coeli.

Te aguardo no meu cantinho.

~pi disse...

sus penso-

me...

não, melhor: sus si n to-me




~

luis lourenço disse...

Acho que o teatro-sobretudo na representação do trágico a que não pode escapar-sendo uma transfiguração da vida é uma grande fonte de inspiração para a arte no seu todo e para a poesia em particular...
obrigado pela sua visita. Acompanharei na medida do possível o ritmo do seu blog que no arranque me parece de muito bom stillo.
abraço

Eme disse...

Isto promete.coisas boas e ruins. realidades por trás do pano. pessoas e pessoas. fugas e nervos em franja. etc, etc..

Venha o Acto II.

sento-me.

Maria Laura disse...

Saúdo o aparecimento de um novo blog. E, para já, fico suspensa da continuação do conto que promete...

**Viver a Alma** disse...

Salvé!
Somos, fomos actores a actrizes em vários palcos...encore(s) e mais encore(s).... aplausos, bravoooooos, e muita "m...." para dar sorte! - tudo isto faz parte de uma peça de teatro que sobe á cena - para quem tenta representar um papel á medida dos desejos de um encenador.

Na vida real, só existem "encore(s)", quando nos distanciamos da pessoa que somos....só que esses "encore(s)" são mais duros, mais sofridos do que os próprios nervos de uma estreia - quer vagueemos na esquerda baixa, como na direita alta...tudo se passa depois...á boca de cena! - onde a plateia somos apenas NÒS! Aí, aplausos, ou pateadas, ou a casa vazia, nos resta.
De uma forma ou outra, actores e actrizes, não necessitam mais de representar ao jeito do encenador, mas sim como eles(as)são e fazem a vida!

Mariz

ESPAVO! - como em MU

mdsol disse...

Poizé! E este azul à Porto também ajuda muito (rsrsrsr) a enquadrar a qualidade da escrita...que não se discute...
BOA SORTE PARA ESTE ESPAÇO.

:)

jrd disse...

Excelente texto que indícia uma longa permanência em cena.
Assim o espero e desejo.
Abraço

isabel mendes ferreira disse...

eu diria que há sempre amores vários....não?????



vou ficar atenta.

:)