quinta-feira, 31 de julho de 2008

Velo teu sono...

Velo teu sono da agitação do dia (que o beijo colhe)
Perdido naquele gesto de ti em rebeldia
De tudo guardar até à lágrima...

Tomo-te nos dedos flor dispersa depois do vento
Assim ferida em meu peito o sangue de tuas vestes
Agora nua. Apenas o murmúrio me importa...

Subtil que seja tua vinda...

Deixo a brisa de teus ais entrar na minha pele
Dorida que venhas no catre em que me deito
Flor de meu desejo. Que o corpo arde...

Anjo caído...

Perfume teu assim negado em desespero
Fértil na espera. Maduro de mil verões de tempo novo
Que os sentidos gritam...

Lagos e sonhos de teus olhos...

sábado, 26 de julho de 2008

Eleições que foram...

Não te esqueças de votar no Domingo...” – soltas, inesperada, do outro lado do telefone, na tua voz aveludada, entre o sobressalto da emoção e o riso irónico...

- “Ah, és tu, Maria Adelaide. Não esquecerei. Celebraremos, de novo, juntos “a minha derrota?!”... – sorrio, com mal disfarçada ternura, bem sabendo o que ditava a tua preocupação cívica.

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Era, assim, noutros tempos. Antes de, em lucidez determinada, teres, Maria Adelaide, colocado ponto final na nossa relação sentimental. Marido e amante eram as duas faces da mesma moeda. Por isso, a tua emancipação pressupunha a “morte” dos dois.

Mas antes, quando tu saltavas de margem para margem, quando o João, teu marido, se afadigava em ambições políticas e, eu próprio, em campo oposto, me expunha na luta política, balançavas tu entre o dever de esposa e o voto do coração. E, prodigiosa, inventaste, então, a fórmula exacta: “celebrar a minha derrota”. O meu campo, ainda que ganhasse, nunca ganharia. A minha vitória seria, pois, a celebração contigo. E o João, teu marido, ganharia, claro, perdendo-(te) um pouco mais...

E celebrávamos, então. Abrias o champanhe, acolhias-me, fremente, no apartamento da praia, em ritual de transgressão. Palpitava o desejo no brilho do olhar, no teu riso nervoso e, como gazela ferida, expunhas o gozo de beber comigo o champanhe de teu marido. Impúdica e excessiva, sempre. Como se a entrega do corpo fosse catarse da alma. Em ultraje às convenções...


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Acordei, com a tua gargalhada:

- “Não! O champanhe esgotou, bem sabes: - dizes, carregando o subentendido. - “E o Pedro navega nas tuas águas. A tua derrota é também a sua derrota”, - acrescentas, num vago sorriso.

Vi sinceridade na tua voz. Terias acertado, finalmente?!.... Depois do teu divórcio, uma ou duas experiências de que saíste magoada. E isso doía-me.

Tremo por ti Maria Adelaide!... Oxalá.

- “Então o Pedro só pode ser bom rapaz!...”- gracejei.

Surpreendendo-me com a minha sinceridade:

- “Sou feliz com a tua felicidade, bem sabes!” – e, em íntimo temor: - “E este te telefonema, Maria Adelaide? Será que não “precisas” de falar comigo?!...”

Que não. Que está tudo bem. Que gostas de dar aulas e que o Pedro é carinhoso. E o teu filho gosta dele. São dois compinchas...

Senti a tua voz embargada:

- “Um dia destes falamos...” - disseste, bem sabendo tu e eu que “um dia destes” não tem prazo, nem horizonte...

- “Claro, Maria Adelaide, claro que falaremos. Sempre!... Até lá, procuremos comemorar as nossas derrotas”... – acrescentei, em amarga ironia...

Ficamos, assim, em silêncio. Minutos, de séculos. Depois, ambos recompostos, falamos de tudo e de nada. Dos amigos comuns. Das velhas e novas amizades. Do quotidiano. Inquiriste. Disse o que podia...

Do outro lado, o veludo da tua voz. Excitada. Quente. Acolhedora:

- “Tenho que ir! Cuida-te...” - e, num assomo de provocação, que tanto cultivavas: - “Fica sabendo que, desta vez, vou votar no “teu” partido! O Pedro merece...” .

Despedes-te numa gargalhada...

Que posso dizer-te, Maria Adelaide?!... Que és sempre bem vinda...

segunda-feira, 21 de julho de 2008

A Sãozinha no Te Deum...

A Sãozinha, velha amiga do Liceu, que os meus leitores ainda não conhecem, esteve recentemente em Lisboa. Confesso que ando a evitar a Sãozinha!... Não que esteja cansado, que ideia!... A Sãozinha supera todos os tédios. Mas que querem? um homem tem por vezes destas quebras!... Por isso, apenas à terceira, a Sãozinha me convenceu : -

- "Tens que vir, esta não a podes perder!"! - referia-se a Sãozinha, naturalmente, a uma das cenas picarescas, tão pródigas na provinciana cidade, onde a minha amiga exerce, com mestria, seu mister de zeladora da harmonia social, no culto das virtudes domésticas e no exemplo fecundo dedicação à causa pública e aos valores perenes da tradição e do respeito...

A Sãozinha sabe que não resisto à graça da sua boquinha "rosa, rosae",declinando, na cama, quadros vivos da nossa cidade natal... em fraldas!.. Por isso, à terceira, fui!..

Claro que antes da estória paguei o tributo. A Sãozinha estava famélica. E foi logo ali, mal transposta a porta, que o ataque se iniciou, fulminante. Uma autêntica incursão no Iraque: não ficou sobre mim pedra sobre pedra. O que vale é que Sãozinha é expert e aplicada. Não tive que me mexer - fui apenas pasto das suas chamas!...

Como sempre, apaziguada a fome da carne, a Sãozinha quis mimar-me. A tarde estava quente e, por isso, ficamo-nos por meloa perfumada com umas gotas de Porto, como a Sãozinha fez questão. Veio então a estória...

Por umas cartas que a Providência quisera, em boa hora, depor em suas sábias mãos, a Sãozinha descobrira que um vulto da 1ª República, nosso conterrâneo, objecto de seus estudos, fora não um ateu e herege carbonário, como todos julgavam, mas um devoto filho da santa madre igreja...

Imaginem o júbilo daquelas almas cristãs!... Impunha-se, como se compreende, celebração condigna. A reposição da verdade histórica assim o exigia. Um solene Te Deum, com o bispo e todo o cabido foi cantado... Para glória nos céus, consolo das almas pecadoras e esperança de conversação dos "novos" ateus!...

Dispenso-me entrar na descrição minuciosa da cerimónia, que a Sãozinha, solícita, quis que este ateu empedernido vivesse em todo o seu colorido e esplendor... Digo-vos apenas, à laia de remate, que o Presidente da Câmara chegou tarde à cerimónia. E, afogueado, por entre o sobreolho franzido do bispo e o pigarro mal contido do Governador Civil, se sentou no lugar reservado na Sé, junto à Sãozinha.

Então, por duas vezes o Presidente, na solenidade da cerimónia, bichanou ao ouvido da Sãozinha qualquer coisa. Que ela, na sua impecável compostura, insistia em não perceber!...

Finalmente compreendeu:- "o cheque! tem o cheque?!", inquiria, angustiado, o Presidente, referindo-se, naturalmente, ao pagamento da cerimónia, uma iniciativa conjunta da Câmara e da instituição!...

Não me disse, de sua resposta, a Sãozinha!... Apenas comentou, num suspiro angelical:

- "Imagina tu, o burgesso, na devoção do Te Deum, a falar-me em cheques!... Como se eu não tivesse mais nada para me ralar - como, por exemplo, a tua ausência e a falta de um madrigal teu, meu Príncipe!..."

Não é mesmo um amor a Sãozinha?!...

quarta-feira, 16 de julho de 2008

Depois do Teatro, o Jogo – última Cena

Abriu. ELAS ali estavam, cobertas de glória. A AUTORA envolta num esplêndido vison castanho. A ACTRIZ com uma estola de arminho sobre os ombros, fazendo ressaltar o azeviche dos cabelos. Da penumbra do hall, sem cerimónia, o MECENAS entrou de rompante e gargalhou, numa reprimenda fingida:

- “Como não quiseste estar na minhaaaa Ceia - sublinhou – viemos nós celebrar contigo...”

Entraram. O MECENAS balanceava ainda o corpo na gargalhada e ocupava todo o espaço no jeito peculiar de seus movimentos felinos. ELAS, com um brilho especial nos olhos, prenunciador das grandes explosões luminosas que, uma e outra, guardavam na subtileza e graça de seus gestos.

- “Jogamos?!...” – perguntou a ACTRIZ, enlaçando-o, num murmúrio. Sentiu o calar doce de seus cabelos na face e o lume de seus olhos negros devassando os seus.

Pressentiu, então, uma peça cujo trama desconhecia. E a AUTORA, num sorriso de cumplicidade, entre irónica e decidida, acompanhando as palavras com um beijo:

- “Viemos aqui para jogar, sabias?!...”

Semi-contrariado, com o olhar, interrogou o MECENAS:

- “Não te vires para mim, estou tão inocente quanto tu...” – disse rindo, suspendendo, por momentos, o gesto de abrir o champanhe. -“Mas por mim, aceito!”... – sublinhou, acentuando a intensidade da gargalhada.

O ENCENADOR compreendeu intimamente que estava cercado. E, se pretendia dominar a cena, teria que tomar a iniciativa.

- “Seja!... Joguemos, pois! ... ” - anuiu. E, libertando-se do abraço feminino: -“Mas já que jogamos, façamos deste jogo uma obra de arte!...”

E, em passadas largas pela sala, frenético, em súbita iluminação, descreveu cenário e as regras do “espectáculo”. Jogariam, como se aquele jogo fosse o último acto de suas vidas. Nus e com máscaras, como se toda a vida passada se desfizesse em pó nos passos percorridos...

Portanto...

Ao centro, a mesa de jogo com pano verde cuidadosamente aberto. Apenas a luz nua da lâmpada solta reflexos doirados sobre os rostos, cobertos de máscaras barrocas. No canto da sala, um candelabro com sete velas acesas, que bruxuleavam sombras pelo espaço. O MECENAS, com uma máscara estilizada de Diónisos; o ENCENADOR, com a carranca de um velho Fauno.

ELAS, mais subtis, escondem o rosto em mascarilhas de seda. Azul uma, a autora, sob a qual espreitam os olhos de uma luminosidade intensa. Negro e branco a outra, a actriz, sugerindo, vagamente, o esboço de um Pierrô ...

- “Para quê jogar?” – insinua-se, num sorriso misterioso, Diónisos – “se todos conhecemos, antecipadamente, o resultado”. “Depois deste jogo” - esclarece - sobrará apenas o esboço ténue de nossas máscaras, flutuando no espaço...”

- “Jogaremos!...” – declara categórica a mascarilha azul ... – “todos nós somos jogadores e apreciamos o jogo pelo prazer de jogar...”

E, empolgando-se :

- “ Já que Deus não joga ao dados, enfeitemo-nos nós de deuses e joguemos!...”

E o velho Fauno, que outra coisa não quer que não seja o calor dos corpos na intimidade do jogo e a colheita sinuosa das almas em cada lance, declara, enfático:

- “Joguemos, pois! E saibamos guardar a memória do jogo, como o vinho guarda o perfume rescendente da vida...”

Toda a noite jogaram intensos e vibrantes. Subindo mais e mais cada parada. Como se cada lance, fosse o orgasmo primordial. Como se o universo se esgotasse na energia fálica dos dedos sobre a mesa...
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Raiava o dia, naquele casarão decadente, nos arredores da grande urbe:

- “Ficamos por aqui!... “ - declara categórica a mascarilha azul – “O sol não tarda a nascer e eu quero estar em casa, antes das crianças irem para o Colégio...”

Ganhara. A mascarilha azul ganhara um bom pecúlio. Jogara inteligente e contida e ganhara, pois bem sabia que nunca se jogam emoções num primeiro jogo e, sobretudo, numa única jogada.

- “Saio contigo! ... – diz a mascarilha “pierrô”, alvoroçada com os preparativos de uma viagem em perspectiva. Como jogadora exímia, acumulara também emoções às emoções que trouxera...

Restaram, portanto, Diónisos, com seu riso sardónico e o velho Fauno, que, abatido por momentos, se levantou e tirou a máscara... Atravessou, depois, com elegância, o salão até ao candelabro, onde se finavam as velas. Acendeu, na chama trémula, uma cigarrilha negra, juntou o polegar com o indicador e, se qualquer sinal de dor, apagou, com os dedos, uma a uma todas as velas.

Voltou-se, pronto a interpelar o Mecenas. E disponível para, num úníco de lance, jogar o destino da sua louca paixão. Então, perplexo, deparou com a máscara tombada de Diónisos. E, em vez do MECENAS, em seu lugar, era o corpo e rosto duplicados do Encenador!...

Inesperadamente. Como num melodrama mal ensaiado, cumpria-se assim o destino paralelo, tantas vezes prenunciado... ...

Soou, então, uma voz cava, vinda de além do Tempo:

- “No delírio dos corpos, quiseste colher almas!... Espero que, ao menos, esta derrota te ajude a compreender a tua...”

No ar pairava intenso odor a enxofre. Como espectros, AUTORA e ACTRIZ acenavam no espaço, sem se saber bem se como chamamento ou se como despedida...

De um canto da sala, Mefisto, saído de uma qualquer página do “Fausto”, esguichou um gargalhada (ihihihih) e desapareceu envolto em fumo denso...

(E este pobre narrador, que não é um homem justo e que tem, por vezes, a pretensão de jogar aos dados com a vida, declara que ateia fogo, em praça pública, às palavras e cenas atrás (d)escritas, em expiação, não de seus pecados ou culpas, mas de seus exageros...)

domingo, 13 de julho de 2008

Depois do Teatro, a Ceia – Cena II

Possuído pela inebriante paixão, como se fora um veneno doce, que tolhe a consciência e afasta quaisquer outros sentimentos que não sejam o deleite de mergulhar nas suas ondas, o ENCENADOR, frente ao espelho, maquinalmente, ajustou o smoking.

Olhou-se nos olhos e acendeu nos lábios o leve sorriso de ironia, que a si próprio dedica em ocasiões como aquela, em que sabendo-se embora senhor de si, não pode, contudo, deter os fios da corrente do destino e, por isso, o “sim” ou o “não” se jogam numa centelha de intuição, mais que num exercício deliberado de inteligência.

Não, não iria à faustosa ceia, que o MECENAS, no seu palacete recentemente restaurado, decidira organizar para seu gozo pessoal e em homenagem a toda a companhia. Claro que tinha boas razões para ir. ELAS lá estariam, requestadas, soberbas de charme e inteligência, dominadoras nesse palco sofisticado de mundaneidades e prazeres fugazes. Mas não iria...

Não lhe agradava, especialmente nessa noite de consagração, sentir-se refém do seu talento, escutar cumprimentos, brandir sorrisos, responder às perguntas imbecis dos jornalistas culturais, que certamente estariam em peso. Mas, sobretudo, preferia evitar o espectáculo do sorriso predador do MECENAS, cobrindo de elogios e atenções aquelas duas mulheres, alfa e ómega de seus êxtases. Se havia algum sucesso a comemorar deveriam ser apenas os três: qualquer intromissão seria perturbar o sopro divino do equilíbrio perfeito...

Não iria, pois!... Com um gesto brusco desfez o laço e libertou-se do smoking a caminho do seu recanto predilecto na biblioteca. O sangue, porém, continuava a latejar de inquietação. Bem sabia ele que o MECENAS as desejava tanto quanto ele próprio...

Sempre assim fora, nessa estranha relação entre os dois. Era amigos desde sempre. Oriundos de uma certa aristocracia arruinada da província, percorreram quase meio século de vida, adivinhando-se nos caminhos, nem sempre dóceis, trilhados por um e por outro. Fora assim no liceu, na faculdade, mais tarde em Paris, partilhando estudos, gostos, aventuras e mulheres, como se vida de cada um fosse réplica da vida do outro.

Melhor: como se, por um qualquer acidente do destino, a vida de cada um realizasse neles o mesmo percurso matricial!... Apenas o rosto e a profissão os distinguia. E, evidentemente, a ostentação da riqueza material. O sucesso empresarial fizera do MECENAS um homem prodigiosamente rico.

Buscava, em vão, o ENCENADOR, envolvido no turbilhão destes pensamentos, refrigério para o estado febril e para aguilhão do desejo, em sua imaginação exacerbada, que teimava em queimar-lhe a carne. Afastou, porém, as gotas de suor frio que, como orvalho matinal sobre pétalas, lhe ornavam a fronte e retirou, da estante, o LIVRO. Sempre o mesmo quando, como agora, a alma delirava e o corpo requeria o calor de outro corpo. Abriu, ao acaso, as páginas do “Fausto”, de Goethe e soletrou, intimamente, o seguinte diálogo:

Fausto:
-“Batem? Entre. Alguém me vem amofinar”.
Mefisto:
-“Sou eu!...”
Fausto (enfadado):
- “Entra lá!...”
Mefisto:
- "Ora assim é que é falar;acho que vamos dar-nos bem...”

Não teve mais tempo. A porta da entrada ribombava de impaciência...
(continua)

sexta-feira, 11 de julho de 2008

O encenador apresenta-se....

Depois da estreia – Cena I

Caído o pano e apagadas as luzes, distendeu os músculos e ergueu-se da poltrona, onde gradualmente deixara as emoções da estreia, enquanto os ecos, aplausos e “encores” se esfumavam, em ondas cada vez mais distantes, nas suas células nervosas.

Valera a pena. Não seriam necessárias as críticas nos jornais do dia seguinte para ter a certeza que o espectáculo fora um sucesso. Sabia, porém, que nas emoções do momento, naquela cartografia de sentimentos díspares, na osmose de sensibilidades em que durante meses se envolvera, secundária fora sua pessoa e pouco contara o seu tão proclamado talento: o apuramento de uma deixa, aqui ou ali, um acerto de luzes, um pormenor de guarda roupa, uma leve correcção de marcação ou no registo de vozes, por vezes indispensáveis.

Porém, o teatro eram ELAS, essas duas mulheres sublimes, que por amor a elas, entrara naquele projecto, onde discretamente soubera imprimir a sua marca estética...

A Actriz, vibrátil e intensa, transfigura-se no palco; e no nervo e no sangue de seu corpo, frágil e sensível, todas as culpas se redimem e todas as glórias, prazeres ou depravações mundanas, alcançam a beleza sublime do “Cântico dos Cânticos”...

A Autora colocara, no coração da escrita, a alegria fecunda da sua criatividade participativa, exposta e vulnerável, tantas vezes graciosa, onde flutuaram, num jogo infinito de espelhos, heróis e vilões, sentimento calmos e funestas paixões...

Como não amar aquelas duas Mulheres?! Por amor a elas, comete pequenas/grandes traições, como aquela de na encenação da peça alterar o “final feliz” e deixar a heroína banhada em lágrimas, coberto o corpo nu com um lençol, como se tálamo nupcial fora, ao arrepio do que o público (e autora) esperariam. Mas a verdade é que não admitiria outro final, pois não suportaria vê-la assim exposta nos braços de outro homem...

Ama as duas, com paixão e ternura. Receia um dia deixar fluir a sua loucura mansa e, com o pano caído sobre o palco, com elas ensaiar a peça única das suas vidas. Sem outro guião que não seja a expressão livre do Desejo e sem outros aplausos que não sejam a cumplicidade à solta.(...)

(continua)