Levantaram-se e saíram. Ele desejou que para dentro do automóvel. Mais uma vez ela trocou-lhe os desejos. Em lugar da intimidade do espaço fechado, onde as mãos poderiam circular e o diálogo da pele dar sequência ao diálogo ainda quente das palavras e dos olhares, ela optou pela extensão da areia deserta e o horizonte infinito da tarde do Outono...
Seguia-a. Deslaçou o nó da gravata e, com o casaco atirado sobre o ombro, seguiu-a. Sentiu-se um pouco ridículo de fato e gravata, a percorrer a praia, bem sabendo que algures, na cidade, a sua ausência seria comentada. Mas seguia-a ...
- “Que se lixem, não quero saber da reunião para nada!” – observou, entre dentes, detendo-se por momentos nos compromissos profissionais da tarde.
Tentou passar-lhe o braço pelos ombros, aconchegando-a, mas ela desfez a carícia. Soltou os cabelos em cascata, sacudiu a cabeça fulva e rebelde e prosseguiu, cadenciada. A maresia inundava as narinas dilatadas. O sol ainda quente, queimava os poros. Uns passos atrás ele segui-a. Sempre... Dominado o impulso. Serenando o sangue. Tecendo caprichos no bambolear das ancas dela...
Os passos deixavam marca da passagem de um homem e de uma mulher na solidão tarde, que caía!...
- “Gostava de te saber nua!..” disse, num murmúrio, saído do âmago do desejo, que ela tão bem adivinhava...
Voltou-se ela, num sorriso. E, sem nada o fazer prever, deixou cair das mãos as sandálias descalças, soltou as alças do vestido e a nudez soberba de seu corpo explodiu na serenidade plena da tarde...
(Um homem perplexo, uma mulher nua e a paisagem, apenas. Sem outra glória, nem crime. Apenas o crepitar do momento único...)
Correu, como corça acossada, desejando o fogo predador. Ele sorriu. Dobrou-se, alcançou as peças de roupa abandonada e segui-a. Passo a passo, antecipando o momento. Saboreando o prazer pagão de dádiva da vida ...
Metros adiante, ocultada por uma rocha milenar, com as ondas lambendo-lhe os pés, estendida no alcochoado da fina areia, ela ali estava expectante em sua nudez exposta...
- “Ofereço-te o livro do meu corpo. Saberás decifrar as suas letras?!... “ – exclamou, em convite sorridente.
( À distância, Eric Rommer filmava e sorria...)
15 comentários:
E termina com uma lindíssima metáfora!...
... e com a alusão ao cinema...
.
Pedaço de um filme...
... desejo de o ver num grande "écran"!
.
[Beijo]
fiquei no "Depois do Teatro, o Jogo – última Cena", de 16/07/2008 !
sorrisos :)
mariam
Conto de Outono ou a Invenção do Amor.
É Pulp Fiction em versão texto. Muito bom, além do final surpreendente.
Um abraço!
Vim do condado aqui espreitar... achei interessante o nome do blog...
e, parabéns pelo texto excelente...
é Outono ainda...
bj das nuvens...
Tenho um prémio para lhe oferecer.
Muito bons dias.
Grata pela visita de parabéns. Fim surpreendente o deste conto. E surpreendida como foste parar ao RC.
Um belo conto. Um bom contista.
Da 1ª vez que chego a este blog, não posso deixar de recordar as emoções de menino... com os robertos...
Cumprimentos
Eram dois conhecidos.. vai dar escândalo quando aparecer nos ecrans.
é destas coisas que o povo gosta.
segue-se?
Terá acrescentado palavras ao livro? Nalguma margem ou em espaços vazias entre linhas?
Muito bem contado.
:)
Belíssimo conto.
Com uma excelente narrativa.
Parabéns.
Abraço.
Um belo texto para filmar
lentamente
Titeriteiro,
ora cá estou, de novo, já subi toda-a-escadaria degrau a degrau...
vc, é um caso muito sério!
esta cena filmada... sensualissima... é realmente uma cena de filme... mas, que pode perfeitamente ter sido real, certo encena_dor??!!! rsrs ... a sê-lo... já que conhecidos da "praça", o paparazo pode vir a trazer problemas! LOL
gostei!
e vou vou gostar de "ver" novas cenas... o guião promete!
aguardo!
bom resto de semana
deixo-lhe um cacho d'uvas
e um sorriso :)
mariam
Enviar um comentário