sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Volto a ti...

Volto a ti, Maria Adelaide, como quem depois da caminhada e da poeira pretende a fonte. Sei que abres o regaço e que os teus dedos estão disponíveis para carícia. Porque venho? Sei que te interrogas. E eu que a ti regresso sempre como porto antigo que conhece o barco e os ventos e a brisa que aportam a ti...

Não, não é a Flavia!... A Flávia é agora apenas o limbo. O ponto neutro de que nada se espera. Apenas o vinho que se (de)gostou e de que se guarda a última garrafa. Que por certo nunca será aberta. Sabe-se lá se vai resistir ao tempo!...

Não. O que me traz a ti e este enamoramento de coisa nenhuma. Desse corpo inventado que me persegue. O rosto que os meus dedos desenham no vazio. Vejo o teu sorriso: -“meu pobre Manuel, continuas a acreditar nas tuas fantasia, como se elas fossem alimento. Sabes que gosto muito de ti e dos teus poemas, mas a vida é outra coisa.E devias saber que foste o sopro da minha regeneração como Mulher, mas não te iludas...”

Atalho o teu discurso. Não é um regresso que procuro. Apenas esta esvoaçante brisa que a tua presença encerra... Um sopro de coisa nenhuma que atravessa os meus dedos abertos, como areia em delírio de crianças...

E antes de falarmos do teu divórcio e do que se seguiu quero-te ainda assim frágil e disponível. Apenas o seio. As palavras que espero. Que sejam não o lenitivo, mas o entendimento desta emoção.

Sabes? Num assomo de ainda te reter, apetecia-me convidá-la. A ela, sim. Rever com ela os locais. Nossos. Sentir, com ela, por exemplo, o travo da noite quente de Alfama de que o Stº António foi pretexto. Lembras-te? O João, teu marido, nos seus múltiplos afazeres estiveram a semana fora.

E chamas-te, no teu capricho: “quero que esta noite seja nossa!”. E foi...

Subimos Alfama enlaçados. Misturamos o corpo e os sentidos na multidão. Senti o cio de teu corpo de encontro ao meu. Bebeste vinho pela minha mão. Sentiste pulsar do Povo reguila e fadista, semi alienado na sua vocação de povo alegre por devoção do santo protector. E os turistas basbaques, fingindo divertir-se...

Sorvi contigo os cheiros de África da tua meninice. Em teus olhos novas descobertas. Os meus, teus escravos...

E subimos colina acima. Mostrei-te o que sabia e na noite nos demos. Nas escadas em caracol até ao leito nos beijamos. E nos amamos com a Lua caprichosa apontando-nos o dedo...

Lá fora era a festa. Em nossos corpos o tempo escoava suave... Como fruto perfumado

8 comentários:

Unknown disse...

E voltaste!
[para a Maria Adelaide...]
E, dizendo tu, que não era um regresso, regressate, mesmo assim!
Gostei que tivesses voltado.
[Beijo...]

Tinta Azul disse...

E mais palavras para quê? Se o encena_dor é, também, um extraordinário argumentista?
:)

~pi disse...

vi claramente o filme:

a

pas so


~

jawaa disse...

Dei uma volta bem larga...
Textos, sensibilidades, também comentadores, tudo me pareceu próximo, tem uma identidade de que apenas provei um pingo.
Bem-vindo a solo (estarei enganada?). Era preciso.
Um abraço solidário

dona tela disse...

Amoroso, amoroso é o post que acabei de fazer.

Muitos cumprimentos.

vida de vidro disse...

Como sempre, a qualidade da escrita impõe-se. **

manhã disse...

nada mau para uma noite de santo, ele teria aprovado, quer-me parecer que era folião!

mariam [Maria Martins] disse...

Titeriteiro,
bem, como "adoçou" a "figura" da "sua" Maria Adelaide, neste escorrer de sentires, que fui descendo, devagarinho frase-a-frase, hoje gostei um bocadinho d'Ela e, de Si "O que me traz a ti e este enamoramento de coisa nenhuma"
palavras que encerram escondidas emoções, não faladas, carências, solidão, quiçá, amor!?


fique bem.
sorrisos :)

mariam